domingo, 27 de abril de 2008

bruxaria e ocultismo

As palavras de uma língua, signos de idéias, de coisas (coisas-em-si), são instrumentos de expressão que servem e pertencem aos falantes da língua. A linguística é ciência útil porém Palavras não se acomodam jamais à imobilidade sugerida pelas gramáticas, pelos dicionários ou momento histórico. O povo, que gosta de simplificar conceitos, tem por hábito atribuir sinonímia (igualdade de significado) a vocábulos cujos sentidos estritos, específicos, são consideravelmente diferentes. Este preâmbulo um tanto longo pretende, enfim, abordar o caso da palavra "BRUXARIA", empregada genericamente e errôneamente como sinônimo de termos como MAGIA, ESOTERISMO e OCULTISMO. A mesma lógica simplista pretende que bruxos (as), magos (as) ocutistas e esotéricos (as) SEJAM a mesma coisa. Este fenômeno socio-cultural de visão estereotipada, equivocada do que vem a ser "BRUXARIA" é muito bem ilustrada pela análise da "cena virtual" das "Salas de Bate-papo" do servidor UOL (Universo On Line - Este servidor é o que oferece opções mais variadas em termos de temas entre o religioso, o místico e o realismo fantástico). Nos chats do UOL dedicados aos temas metafísicos ou ligados à "física da espiritualidade", do sobrenatural e religioso, distingüem-se 15 categorias. A tabela abaixo é um demonstrativo da freqüência a estas salas em um flagrante da hora do crepúsculo no dia de Natal, em 2004. Os números revelam uma notável diferença na capacidade de agregação de determinados "LETREIROS" em relação a outros. É evidente que as palavras BRUXARIA, ESPIRITISMO, EVANGÉLICOS E CATÓLICOS evocam complexos de valores subjetivos (simbólicos) mais atraentes que os termos OCULTISMO, ESOTERISMO, BUDISMO, etc.. Porém, no plano doutrinário, filosófico, teológico e ético BRUXARIA, ESPIRITISMO, EVANGELISMO E CATOLICISMO possuem várias afinidades com o OCULTISMO (que pode ser sinônimo de ESOTERISMO), o BUDISMO, a UMBANDA (ligada em especial ao Espiritismo), o CANDOMBLÉ, a tradição WICCA (magia européia) e, como demonstra a tabela, neste estudo incluímos a ufologia e a ficção científica, dois temas que não raro se cruzam com o Ocultismo em suas tão numerosas vertentes de práticas e teorias. Antes de abordar a questão central da confusão entre Bruxaria e Ocultismo, cabe ainda comentar uns poucos dados notáveis que a tabela expõe. São números que informam, a título de amostragem-teste, o modo como as pessoas, a sociedade, tem se posicionado diante dos aspectos mais frágeis da condição humana: sujeição ao destino, impotência diante das "forças ocultas" da fatalidade. Esta "amostra" tem seu valor em termos demonstrativos porque a comunidade de internautas, freqüentadores de chats em horários de pico, hoje, no Brasil, é numericamente considerável e pressupõe um nível de educação mediano. Por isso, aquelas salas estarem abertas há quase uma década, como fenômeno social, é um fato bastante significativo. Afinal, estamos no século XXI e, no entanto, os sombrios caminhos do misticismo continuam seduzindo o homem contemporâneo. O mesmo que se trata com a medicina de última geração; o mesmo que se rende fascinado às maravilhas da tecnologia, este homem "devoto" do novo, do atual, ainda procura cartomantes, entra em transe na reunião da "Igreja" cantando aqueles esteticamente pavorosos cantos de louvor, freqüenta os terreiros em busca da orientação de um conjunto búzios, e, absurdo dos absurdos, engajam-se, até, em "correntes positivas" por e-mail! No campo específico da religiosidade, a tabela mostra claramente a divisão entre cristãos: evangélicos e católicos (apostólicos romanos). A comparação dos dados evidencia: 1. o avanço das chamada "denominações" ou Igrejas Evangélicas no país; 2.o equilíbrio numérico de participantes entre as salas de Bruxaria, Católicos, Judaísmo e Espíritas. Neste caso, a observação por períodos prolongados, ao longo de dias, mostra que os Espíritas são mais procurados. Destas observações, resulta a constatação que a Bruxaria concorre em pé de igualdade, em relação a três das chamadas "grandes religiões" como recurso de solução metafísica, sobrenatural, subjetiva para problemas físicos, naturais, objetivos. A análise demonstra ainda resistência das tradições "pagãs", mais próxima da crença na "divindade do homem" e dedicada a empreender ações e reações fente aos percalços do "destino". O público espírita representa uma "pré-ocupação" centrada no mistério da morte enquanto os católicos afirmam a sua fé submissa em contraposição à fé de desafios e determinações dos evangélicos.

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