DOUTRINAS COMPLEXAS A questão das doutrinas mais complexas é bem desenvolvida nos livros Pistis Sophia e no Evangelho de Bartolomeu, que conservam ensinamentos ministrados por Jesus depois da Ressurreição, no período que passou entre os Apóstolos antes da Ascensão. Em Bartolomeu, Jesus fala de sua Unidade com o Pai, o que fortalece o dogma da Santíssima Trindade, concepção de Deus como Unidade constituída de Três Pessoas em Uma só:
Em verdade te digo eu, meu amado, que, quando me encontrava entre vósensinando-vos a palavra, estava simultaneamente sentado junto de meu Pai" [EVANGELHO DE BARTOLOMEU]
Aborda temas curiosos, intrigantes: o número de almas que nascem e morrem no mundo todos os dias; onde esteve e o que fez Jesus, não depois que foi fechado o sepulcro, mas antes, na cruz, de onde, se diz, ele sumiu em dado momento de sua agonia; a visão de Adão como um gigante,
Bartolomeu continuou:— Quantas almas saem diariamente deste mundo?Disse-lhe Jesus:— Trinta mil. ... — Quantas almas nascem diariamente no mundo?Responde-lhe Jesus:— Uma só a mais do que as que saem do mundo.
MISTÉRIO DA CRUZDize-me, Senhor, onde foste depois da cruz.Jesus, então, respondeu desta forma:— Feliz de ti, Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério...Quando desapareci da cruz, desci aos Infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às suplicas do arcanjo Gabriel.Então disse Bartolomeu:— E o que significa aquela voz que se ouviu?Responde-lhe Jesus:— Era a voz do Tártaro... Eu o flagelei [ao Inferno] e o atei com correntes que não se rompem. Depois fiz sair a todos os Patriarcas e voltei novamente para a cruz. ..
ADÃO GIGANTE— Dize-me, Senhor — disse-lhe Bartolomeu. — Quem era aquele homem de talhe gigantesco a quem os anjos levavam em suas mãos?Jesus respondeu:— Aquele era Adão, o primeiro homem que foi criado, a quem fiz descer do céu à terra. E eu lhe disse: por ti e por teus descendentes fui pregado na cruz. Ele, ao ouvir isso, deu um suspiro e disse: assim, rendo-me a ti, Senhor.
PISTIS SOPHIA — FÉ & CONHECIMENTO Pistis Sophia é um livro cristão, sem dúvida. Porém, sua doutrina hermética, muitíssimo complexa, apresentada através de um mito e figuras alegóricas muito elaboradas, fazem da obra muito mais como um tratado esotérico do que um Evangelho. Pistis Sophia não fala da vida de Jesus nem da doutrina popular, que foi ensinada em meio ao povo. Seu longo texto ocupa-se do conhecimento revelado aos Apóstolos depois da ressurreição, num período de tempo cuja duração gera controvérsias entre tradutores e exegetas [intérpretes]. Embora o texto diga que Jesus passou 11 anos entre os Apóstolos, muitos estudiosos contestam, acham que há um engano de tradução e entendem que aquele período como 11 meses. O manuscrito em copto, dialeto sahídico do Alto Egito, pertence aos primeiros séculos da Era Cristã, possivelmente entre os séculos IV e V d.C.. São 178 folhas de pergaminho 21x16,5 cm, agregadas em cadernos, divididas em seis livros, exibindo caligrafias claramente diferentes de dois escribas. Oito páginas foram perdidas mas, no geral, o documento foi encontrado em excelente estado de conservação. O original que deu origem à versão copta era grego, como mostraram análises técnicas. Não se sabe onde ou quem encontrou o documento. Ele apareceu, pela primeira vez, na Inglaterra, onde foi adquirido pelo médico e colecionador de manuscritos antigos, A. Askew, isso, possivelmente, em 1772. Ficou, então, conhecido como Códice Askew. Com a morte de Askew, o manuscrito foi vendido ao museu britânico. O nome Pistis Sophia, sugerido pelo estudioso C.G. Woide, que examinou o Códice a pedido de Askew, foi retirado do capítulo intitulado O Segundo Livro de Pistis Sophia, sendo que Pistis Sophia é o nome da personagem alegórica que está no centro da narração do livro. Depois de Woide, Pstis Sophia foi estudada e traduzida por numerosos especialistas. Em meadosdo século XIX, apareceu a primeira tradução do texto completo ara o latim, de M.G. Schwartze, publicada em 1851. Em 1895, o egiptologista e erudito em copta E. Amélineau, publicou a primeira tradução em língua viva ocidental, o francês. Em 1896, G.R.S. Mead traduziu para o inglês e publicou sua versão baseado no texto em latim. Em 1905, o alemão C. Schmidt, traduziu a partir do original copto, trabalho considerado uma obra prima. Pistis Sophia é, possivelmente, o livro mais espantoso do cristianismo. Sua leitura é difícil lembrando os tratados cosmogônicos hindus. Não é um livro que possa ser classificado como religioso e muito menos popular. Seu assunto principal, a essência e evolução do Ser Humano, a saga da alma —a Pistis Sophia, é apresentada numa linguagem mitológica, sim, alegórica, de fato, porém, muito próxima, também, da linguagem da filosofia e da metafísica. Nas palavras de Raul Branco [1997], que traduziu o livro para o português: Pistis, em grego, significa fé, mas não fé cega e sim a fé, ou total convicção, advinda do conhecimento direto (revelação interior). Sophia, por outro lado, significa sabedoria. Portanto, é possível que o nome composto Pistis Sophia, utilizado para representar o arquétipo da alma enviada em peregrinação aos mundos inferiores, esteja indicando o princípio fundamental [a fé na Luz do Alto] que caacita a alma a realizar sua missão e o fim último desta missão, a obtenção da sabedoria dos dois mundos [material e espiritual]. ... O grande segredo das apresentações cosmogônicas é que descrevem simultaneamente o macro e o microcosmo. Este último aspecto é a história oculta do homem como arquétipo e deságua no grande oceano da peregrinação da alma, que deve mergulhar na matéria, onde fica prisioneira por incontáveis eons, ou eras, até ser resgatada pelo Salvador. O mito de Sophia representa a última etapa da cosmogonia, ou seja a da redenção de Pistis Sophia, que é ao mesmo tempo uma entidade macrocósmica e o símbolo da alma humana. A estória de Sophia, portanto, traça, em linguagem velada, as etapas da queda e da salvação da alma... * livro virtual, disponível online, free download Para a Igreja católica Pistis Sophia é um livro que não tem utilidade no processo de catequese e ainda cria dificuldades doutrinárias embaraçosas, como a explícita afirmação da reencarnação, como faz Jesus em uma de suas revelações finais aos discípulos, antes da Ascensão: DA ENCARNAÇÃO DE JOÃO, O BATISTA: Quando entrei no meio dos regentes dos eons, olhei para baixo, para o mundo da humanidade, por ordem do Primeiro Mistério [O Criador, Deus]. Descobri Isabel , a mãe de João, o Batista, antes dela tê-lo concebido, e semeei nela um poder que eu havia recebido do pequeno Iaô, o Bom, que está no Meio, para que ele pudesse fazer proclamações antes de mim, preparar o meu caminho e batizar com a água do perdão dos pecados. Este poder está, então, no corpo de João. Para os discípulos de Alan Kardec, Pistis Sophia é uma verdadeira revelação que confirma a doutrina Espírita com o testemunho do próprio Cristo. Além da reencarnação de João Batista [inequivocamente identificado como sendo o mesmo Espírito que animou o profeta Elias] − Jesus fornece detalhes das encarnações e Espíritos encarnados dos Apóstolos e descreve seu próprio processo de encarnação através de Maria. E Jesus continuou mais uma vez sua preleção e disse: "Aconteceu então, a seguir, que, de ordem do Primeiro Mistério, olhei para baixo para o mundo da humanidade e encontrei Maria, que é chamada 'minha mãe' de acordo com o corpo material. Falei com ela na forma de Gabriel e quando ela se volveu para o alto na minha direção, coloquei nela, naquele momento, o primeiro poder que eu havia recebido de Barbelô — isto é, o corpo que eu havia usado no alto. E, em vez da alma, coloquei nela o poder que eu havia recebido do grande Sabaoth, o Bom , que está na região da Direita. Apócrifo, palavra que significa segredo, é uma designação muito apropriada para estes livros cujo conteúdo os padres da Igreja, regentes da espiritualidade religiosa do mundo ocidental por dezenas de séculos, acharam por bem manter oculto, à salvo do domínio público. Havia e há o temor de que o público, dotado de imaginação facilmente excitável, acabasse se dispersando em incontáveis seitas que poderiam surgir [e surgiram mesmo apesar do segredo] inspiradas nestes textos repletos de magia, misticismo e idéias transcendentais. Sem dúvida, uma ameaça à unidade e força do cristianismo católico. Contudo, os Apócrifos, como realidade que são, fatos dados, são cada vez menos ocultos. Ao contrário, o braço do modismo editorial da indústria cultural há muito vem bebendo na fonte dos Apócrifos, seja reeditando os Evangelhos, seja em lançamentos de pesquisa e ficção que giram em torno de temas extraídos daqueles Evangelhos
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