sábado, 26 de abril de 2008

EGITO:MAGIA NA TERRA DOS FARAOS

Heka, a magia, ou deus da magia, na extrema esquerda da figura, em frente a deusa Maat.No fundo, o trono de Osíris. Papiro funerário da sacerdotisa Nesitanebetisheru, 950 a.C.. British Museum.

No antigo Egito, a magia [heka] era uma das forças que o Criador tinha usado para fazer o mundo e a magia consistia, principalmente, em atos simbólicos que produziam efeitos práticos. Todas as divindades possuíam algum tipo desse poder e havia regras sobre os motivos e modos de usar magia. Os sacerdotes eram os guardiões desse conhecimento secreto; eram os únicos capazes de ler os livros antigos que continham as fórmulas, dádivas dos deuses que protegiam os homens das "desgraças do destino", verdadeiros tesouros guardados nos palácios e bibliotecas. Havia uma hierarquia de magos e magias: a mais importantes, protegiam o faraó, influíam sobre o nascimento e a morte. A magia curativa era uma especialidade dos sacerdotes de Sekhmet, a apavorante deusa da calamidade. Em um nível mais baixo de especialização, estavam os "escantadores de escorpiões", conhecedores do venenos dos répteis e dos insetos. As mulheres também conheciam a magia prática do dia a dia e algumas, consideradas sábias, eram consultadas em casos que envolviam fantasmas e perturbações na vida pessoal. Os amuletos eram muito usados para proteção contra diferentes tipos de males. Alguns deles eram simplesmente fórmulas escritas em papiro, dobradas, inseridas em tecido de linho e costuradas às roupas, como alguns bentinhos, usados pelos católicos há poucas décadas, hoje mais raros. Estes amuletos eram propiciadores de longa vida, prosperidade e saúde.Em geral, o alvorecer era o momento mais propício para os rituais e oficiante deveria estar "puro", uma condição que envolvia o uso de roupas rigorosamente limpas, abstinência sexual e evitar contato com pessoas consideradas impuras, como os embalsamadores e as mulheres menstruadas. Um encantamento consistia em dizer as palavras corretamente, principalmente o nome das divindades, descrevendo as ações que seriam empreendidas. As palavras podiam ativar a potência de amuleto, uma figura ou uma poção. As poções, muitas vezes continham ingredientes bizarros, como o sangue de uma cachorro negro ou o leite de uma mulher que estivesse amamentando um menino. Música e dança podiam complementar o encanto, como o som dos tambores, usado para afastar entidades malignas.Doenças, acidentes, pobreza e infertilidade podiam ser causados por divindades irritadas, fantasmas invejosos, demônios e bruxas. As vítimas mais comuns dos males causados por essas figuras eram as mulheres grávidas e as crianças. Bastões mágicos, feitos de marfim ou metal, decorados com entalhes de símbolos mágicos podiam ser usados para formar um círculo protetor contra as forças do mal que, não raro, eram atribuídas a magos estrangeiros. A deusa hipopótamo Taweret e anão-leão Bes eram considerados deuses protetores cujas imagens eram traçadas em utensílios domésticos e peças do mobiliário. Também apareciam freqüentemente nos amuletos.

MAGIA DE CURA

Magia empregada em casos de doença era um tratamento alternativo e, também, terapia complementar. Os papiros médico-mágicos continham fórmulas usadas pelos sacerdotes de Sekmet contra seres sobrenaturais causadores de diferentes males dos corpo e da mente. Conhecer os nomes desses seres era uma forma eficaz de agir sobre e contra eles. Os demônios eram atraídos pelas coisas feias e/ou delituosas e, assim, o lógico era usar coisas deste tipo para atraí-los e afastá-los; outro recurso era usar substâncias doces, como o mel e/ou desenhar na pele do paciente imagens de divindades protetoras para repelir as criaturas. Também recorria-se à recitação de palavras mágicas que podiam ser a reconstituição de mitos ligados à cura: o sacerdote proclamava que era Toth, o possuidor do conhecimento que curou o olho de Hórus. Coleções e magias curativas e de proteção, muitas vezes eram inscritas sobre estátuas e placas de pedras, as stelas. Seu uso era público. Uma estátua do faraó Ramsés III [1184 a.C.-1153 d.C.], colocada no deserto, servia para repelir cobras e curar suas mordidas. Um tipo de stela mágica conhecida como cippus mostrava o deus Hórus menino subjugando animais perigosos e répteis. Muitas continham descrições de como Hórus foi envenenado por seus inimigos e como sua mãe, Isis, implorou pela vida do filho até que Rá enviou a cura. A história termina com a promessa de que qualquer um que esteja doente será curado como Hórus. O poder daquelas palavras e imagens podia ser obtido colhendo água derramada sobre a stela. Esta água mágica podia ser bebida pelo paciente ou usada para lavar suas feridas.

MALDIÇÕES Os egípcios também praticavam a magia das maldições ou magia destrutiva. Nomes de inimigos estrangeiros e traidores eram escritos em vasos, tabuletas ou figuras de cerâmica. Nas figuras, os inimigos eram representados amarrados. Os objetos eram, então, queimados ou enterrados em cemitérios. Esse procedimento deveria enfraquecer ou destruir o adversário.Nos templos, sacerdotes e sacerdotisas realizavam cerimônias para amaldiçoar inimigos de ordem divina, como a serpente do caos, Apophis, que vivia eternamente em guerra com o Sol, deus da Criação. Imagens de Apophis traçadas em papiro ou modeladas em cera eram recebiam manifestações de desprezo, como cusparadas ou eram espancadas, pisadas, apunhaladas, queimadas. Os resíduos eram dissolvidos em baldes de urina. Deuses violentos do panteão eram convocados para combater e destruir Apophis, incluindo sua alma e sua magia. Os rivais humanos dos faraós também eram amaldiçoados durante essa cerimônia.Este tipo de magia foi usado contra o faraó Ramsés III por um grupos de magos, cortesãos e mulheres do harém. Os conspiradores, apoderando-se de um livro de magia negra da biblioteca real, usaram os conhecimentos ali contidos para preparar poções e figuras de cera a fim de prejudicar o faraó e sua guarda. As maldições projetadas nas figuras de cera eram mais eficazes se nelas eram incorporadas elementos pertencentes à vítima: cabelos, unhas, fluidos corporais [como no vodoo] No caso de Ramsés III, esses elementos foram facilmente obtidos pelas mulheres do faraó. Não obstante, o plano falhou e os conspiradores, descobertos, foram condenados à morte.

FANTASMAS As idéias dos egípcio sobre a composição do homem favoreceram a crença em aparições e fantasmas. O homem seria uma combinação de corpos:1.corpo físico2.sombra [seria o corpo astral]3.duplo - ka, espírito4.alma - 5.coração ou alma-coração [seria a porção anímica animal]6.khu, veículo do espírito7.força [vital]. Com a morte do corpo físico, dele se desprende a sombra que somente pode ser trazida de volta por meio de cerimônias místicas. O duplo permanecia na tumba com o corpo e era visitado pela alma, que passava a habitar o Paraíso. Essa alma ka, o duplo, era, ainda, algo material, assim como khu, veículo do espírito que partilhava [alimentava-se] das oferendas funerárias depositadas na tumba: carnes e bebidas. Se o duplo não encontrasse alimentos na sepultura, passava a vagar entre os vivos em busca de algo para comer e beber, consumindo mesmo coisas imundas, o que era considerado uma maldição. Mas além da sombra, do duplo e da alma, também o espírito, a parte realmente imortal do homem que, em geral, tinha sua morada no Céu, muitas vezes era encontrado no sepulcro. Nesse caso, tal espírito estava preso a uma estátua representativa do morto. Nestas tumbas, uma parte especial era reservada para ka [o espírito, o duplo], chamada "casa de ka" e o sacerdote de ka cuidava especialmente desse aspecto, provendo o espírito com perfume de incensos, flores, ervas, carne e bebida, as coisas que a pessoa apreciava em vida. Ka, era, por excelência, o fantasma dos egípcios, muitas vezes confundido com seu veículo, khu. [Ou seja, o espírito ka possui um suporte material, khu]. Apesar dessa confusa constituição do homem, o fato é que os egípcio acreditavam podia interagir com seus parentes e amigos que permaneciam no mundo terreno. Esse contato poderia ser propiciado por meio de encantamentos escritos em um papiro, declamados diante da estátua que abrigava ka [o espírito]. Um fantasmas insatisfeito poderia, por exemplo, perturbar a vida de um vivo. Foi o caso de um homem que se queixava da esposa morta há três anos e que não o deixava em paz, lançando sobre a vida dele toda sorte de infortúnios. Para se livrar da perseguição da falecida, ele escreveu em um papiro seus próprios méritos, lembrou o bom tratamento dedicado a ela em vida e alegou que que o mal que ela vinha fazendo não se justificava. O papiro foi levado à tumba da mulher e ali depositado, amarrado à estátua que abrigava o duplo da morta que, assim, poderia ler a petição de paz. Os cemitérios ou necrópoles eram lugares temidos pelos egípcios justamente porque ali moravam os espíritos. A crença era compartilhada também entre os povos de língua árabe do Egito e do Sudão, exceto pelos violadores de túmulos. No Sudão, acreditavam que os espíritos daqueles que morriam em batalhas permaneciam nos locais em que tombaram mortos ou onde seus corpos tinham sido enterrados.

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